I
- Eu sou o Coração; e eis a Cobra enroscada
Da mente em volta ao cór do qual não se vê nada.
Ó minha cobra, sobe! Está chegada a hora
Da flor velada e santa. Ó minha cobra, aflora!
Sobe com esplendor que fulge e que retumba
No cadáver de Asar que flutua na tumba!
Ó coração de minha mãe, minha irmã, de mim mesmo,
Tu és jogado ao Nilo; Tifon, ele é teu!
Ah me! Porém a glória e fúria da tormenta
Enfaixa-te de força, em forma te acalenta.
Aquieta-te, Ó minhalma! a fim que suma o encanto
Ao erguer dos condões; findo aeon; novo, e santo!
Vê! que belo que sou, que alegre assim
Te faço, Ó cobra que me envolves no tempo e no espaço!
Vê! nós somos um só, e o vendaval de arroube
Vai, desce no poente, e o Escaravelho sobe.
Ó Khephra! Teu zumbido, a nota pura e santa,
Seja sempre o só transe e voz desta garganta!
Eu aguardo a alvorada! O chamado do Pai,
O Senhor Adonai, o Senhor Adonai - Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Deve haver sempre divisão na palavra.
- Pois as cores são muitas, mas a luz é uma.
- Portanto tu escreves aquilo que é esmeralda-mãe, e de lápis-lazuli, e de turqueza, e de alexandrita.
- Outro escreve as palavras de topázio, e de profundo ametista, e de safira cinza, e de profundo safira com um toque como que de sangue.
- Portanto vós vos afligís por causa disto.
- Não vos contenteis com a imagem.
- Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.
- Não discutais a imagem, dizendo Além! Além! Sobe-se à Coroa pela Lua e pelo Sol, e pela seta, e pelo Fundamento, e pelo escuro lar das estrelas partindo da terra negra.
- Não de outra forma podeis vós atingir a Ponta Polida.
- Nem está bem que o sapateiro tagarele o assunto Real. Ó sapateiro! conserta-me este sapato, para que eu possa andar. Ó rei! se eu for teu filho, falemos da Embaixada do Rei teu irmão.
- Então houve silêncio. A fala nos deixara por algum tempo.
- O acônito não é tão agudo quanto o aço; no entanto, fere o corpo mais sutilmente.
- Tal como beijos malignos corrompem o sangue, assim minhas palavras devoram o espírito do Homem.
- Eu respiro, e há infinito desassocêgo no espírito.
- Como um ácido rói o aço, como um câncer que corrompe por completo o corpo, assim sou Eu para o espírito do homem.
- Eu não descansarei até que o tenha dissolvido todo.
- Assim também a luz que é absorvida. Um absorve pouca, e é chamado branco e reluzente; um absorve toda e é chamado negro.
- Portanto, Ó meu querido, tu és negro.
- Ó meu lindo, Eu te tornei semelhante a um retinto escravo núbio, um menino de olhos tristes.
- Ó o cão! o imundo! eles gritam contra ti. Porque tu és meu bem-amado.
- Felizes aqueles que te elogiam; pois eles te vêem com Meus olhos.
- Não em voz alta eles te elogiarão; mas na guarda noturna um se aproximará furtivamente e te dará o aperto secreto; outro em privado te coroará com uma coroa de violetas; um terceiro ousará grandemente, e beijará com lábios loucos os teus.
- Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.
- Tu Me procuraste longamente; tu correste tanto avante que Eu não pude te alcançar. Ó meu querido tolo! de que amargura te coroaste os dias.
- Agora Eu estou contigo; Eu jamais deixarei o ter ser.
- Pois Eu sou aquela macia, sinuosa, enroscada em volta tua, coração de ouro!
- Minha cabeça está adereçada com doze estrelas; Meu corpo é branco como leite das estrelas; brilha com o azul do abismo de estrelas invisível.
- Eu achei aquilo que não podia ser achado; Eu achei um vaso de mercúrio.
- Tu instruirás teu servo em seus caminhos, tu falarás muito com ele.
- (O escriba olha para cima e grita) Amém! Tu o disseste, Senhor Deus!
- Adonai falou mais a V.V.V.V.V. e disse:
- Deleitemo-nos na multidão dos homens! Construamos deles um bote de madrepérola para nós, a fim de navegarmos no rio de Amrit!
- Tu vês aquela pétala de amaranto soprada pelo vento das baixas, doces sobrancelhos de Hathor?
- (O Magister viu-a, e regozijou-se na beleza dela.) Escuta!
- (De um certo mundo veio um lamento infinito.) Aquela pétala caindo pareceu aos pequeninos uma onda para engolir seu continente.
- Assim eles recriminarão teu servo, dizendo: Quem te encarregou de nos salvar?
- Ele sofrerá muito.
- Todos eles não compreendem que tu e Eu estamos fazendo um bote de madrepérola. Nós desceremos o rio de Amrit até os bosques de teixos de Yama, onde podemos nos regozijar extremamente.
- A alegria dos homens será o nosso brilho prateado, a tristeza deles será o nosso brilho azulado - tudo na madrepérola.
- (O escriba se enraiveceu com isto. Ele disse: Ó Adonai e meu mestre, eu tenho carregado o tinteiro e a pena sem salário, a fim de que eu pudesse buscar esse rio de Amrit, e navegar nele como um de vós. Isto eu exijo como paga, que eu partilhe do eco de vossos beijos.)
- (E imediatamente lhe foi isto concedido.)
- (Não; mas não com isto ele se contentou. Por um infinito rebaixamento em vergonha ele se esforçou. Então uma voz:)
- Tu te esforças sempre; mesmo em te entregando tu te esforças por entregar-te - e vê! tu não te entregas.
- Vai aos lugares mais externos e submete todas as coisas.
- Submete teu medo e teu desgosto. Então - entrega-te!
- Houve uma virgem que andava a esmo no trigal, suspirando; então nasceu algo novo, um narciso, e nele ela.
- No mesmo instante Hades se abateu sobre ela e possuiu-a e a levou.
- (Então o escriba conheceu o narciso em seu coração; mas como não lhe subia aos lábios, ele envergonhou-se e se calou.)
- Adonai falou uma vez ainda com V.V.V.V.V. e disse: A terra está madura para a vindima; comamos de suas uvas, e embriaguemo-nos com elas.
- E V.V.V.V.V. respondeu e disse: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelso, como parecerá esta palavra às crianças dos homens?
- E Ele respondeu-lhe: Não qual podes ver. É certo que cada letra desta cifra tem algum valor; mas quem determinirá o valor? Pois varia sempre, de acordo com a sutileza d'Aquele que a fez.
- E Ele respondeu-lhe: Não tenho Eu a chave da cifra? Eu estou vestido com o corpo de carne; Eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus.
- Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça do Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu conheces o branco, e tu conheces o negro, e tu sabes que estes são um. Mas por que buscas tu o conhecimento da equivalência deles?
- E ele disse: Para que minha Obra possa ser correta.
- E Adonai disse: O segador forte e moreno varreu a sua ceifa, e regozijou-se. O homem sábio contou seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e ficou triste.
Seja tu, e regozija-te! - Então o Adepto alegrou-se, e levantou seu braço. Vede! um terremoto, e praga, e terror sobre a terra! Uma queda daqueles que sentavam em lugares elevados; uma fome sobre a multidão!
- E a uva caiu madura e rica em sua boca.
- Manchada está a púrpura da tua boca. Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de Adonai.
- A espuma da uva é como a tormenta sobre o mar; os navios tremem e sacodem-se; o capitão está com medo.
- Isso é a tua embriaguês, Ó santo, e os ventos rodopiam a alma do escriba para dentro do porto feliz.
- Ó Senhor Deus! que o porto caia na fúria da tormenta! Que a espuma da uva tinja minha alma com Tua luz!
- Bacchus envelheceu, e foi Silenus; Pan sempre foi Pan, para sempre e sempre mais, através dos aeons.
- Intoxica o mais íntimo., Ó meu amante, não o mais externo.
- Assim foi - sempre o mesmo! Eu mirei à baqueta pelada de meu Deus, e eu atingi; sim, eu atingi.
II
- Eu entrei na montanha de lápis-lazuli, mesmo como um falcão verde entre os pilares de turqueza que está sentado sobre o trono do Oriente.
- Assim cheguei a Duant, a habitação das estrelas, e ouvi vozes que gritavam alto.
- Ó Tu sentes sobre a Terra! (assim me falou uma certa Figura Velada) tu não é maior que tua mãe! Tu grão de pó infinitesimo! Tu és o Senhor de Glória, e o cão imundo.
- Descendo, mergulhando minhas asas, eu cheguei às habitações de escuro esplendor. Lá, naquele abismo informe, fui eu feito um comungante dos Mistérios Invertidos.
- Eu sofri o abraço mortal da Cobra e do Bode; eu prestei a homenagem infernal à vergonha de Khem.
- Nisto havia esta virtude, que o Um tornou-se o todo.
- Além disto, eu tive a visão de um rio. Nele havia um botezinho; e neste, sob velas de púrpura, estava uma mulher dourada, uma imagem de Asi lavrada do ouro mais fino. Também, o rio era de sangue, e o bote de aço brilhante. Então eu a amei; e, desatando meu cinturão, atirei-me à correnteza.
- Eu recolhi-me ao botezinho, e durante muitos dias e noites a amei, queimando lindo incenso diante dela.
- Sim! Eu lhe dei da flor da minha juventude.
- Mas ela não se moveu; apenas, pelos meus beijos eu a conspurguei tanto que ela enegreceu perante mim.
- Entretanto eu a adorei, e dei-lhe da flor da minha juventude.
- Também aconteceu que através disto ela adoeceu, e corrompeu-se diante de mim. Quase eu me atirei à correnteza.
- Então, no fim do mercado, seu corpo era mais branco que o leite das estrelas, e sua boca rubra e quente como o ocaso, e sua vida de um branco em braza como o calor do sol do meio-dia.
- Então ela se ergueu do abismo de Idades de Sono, e seu corpo me abraçou. Eu me derreti por completo em sua beleza, e alegrei-me.
- Também o rio tornou-se o rio de Amrit, e o botezinho era a carruagem da carne, e suas velas o sangue do coração que me carrega, que me carrega.
- Ó mulher serpente das estrelas! Eu, mesmo eu, Te fiz de uma pálida imagem de ouro fino.
- Também o Santo veio sobre mim, e eu vi um cisne branco flutuando no azul.
- Entre suas asas eu me sentei, o os aeons fugiram.
- Então o cisne voou, e mergulhou, e subiu; no entanto não fomos alhures.
- Um meninote louco que montava comigo falou ao cisne e disse:
- Quem és tu que flutuas e voas e mergulhas e sobes no inano? Vê, todos estes aeons passaram; de onde vens tu? Aonde vais?
- E rindo eu lhe ralhei, dizendo: Não há de onde! Não há aonde!
- O cisne não falando, ele respondeu: Então, se não há fito, para que esta jornada eterna?
- E eu reclinei minha cabeça contra a Cabeça do Cisne, e ri-me, dizendo: Não há alegria inefável neste vôo sem fito? Não há cansaço e impaciência para quem quereria alcançar algum alvo?
- E o cisne permaneceu silente. Ah! mas nós flutuamos no infinito Abismo. Alegria! Alegria! Cisne branco, sustenta-te sempre entre as tuas asas!
- Ó silêncio! Ó raptura! Ó fim das coisas visíveis e invisíveis! Tudo isto é meu, que Não sou.
- Deus Radiante! Deixa que eu faça uma imagem de ouro e gemas para Ti! para que o povo possa derrubá-la e espezinhá-la em pó! Para que a Tua glória seja vista deles.
- Nem será dito nos mercados que eu cheguei quem deveria vir; mas Tua vinda será a palavra única.
- Tu Te manifestarás no imanifestado; nos lugares secretos os homens te encontrarão, e Tu os conquistarás.
- Eu vi um jovem pálido e triste deitado sobre o mármore à luz do sol, chorando. A seu lado estava o alaúde esquecido. Ah! mas ele chorava.
- Então veio uma águia do abismo de glória e cobriu-o com sua sombra. Tão negra era a sombra que ele ficou invisível.
- Mas eu ouvi o alaúde tocando vivamente através do ar azul e quieto.
- Ah! mensageiro do Bem-Amado, cobre-me com Tua sombra!
- Teu nome é Morte, talvez; ou Vergonha, ou amor. Contando que me tragas novas do Bem-Amado, não perguntarei teu nome.
- Onde está agora o Mestre? gritam os loucos meninotes. Ele está morto! Ele está envergonhado! Ele está casado! e sua zombaria dará volta ao mundo.
- Mas o Mestre terá tido a sua recompensa. O riso dos zombadores será um corrupio no cabelo do Bem-Amado.
- Vê! o Abismo da Grande Profundez. Ali está pujante golfinho, fustigando seus lados com a força das ondas.
- Ali está também um harpista de ouro, tocando infinitas melodias.
- Eles säo mais eficientemente impressionados pelo elogio da beleza, mostrada em suas mais brilhantes vestes.
- O harpista também pôs de lado sua harpa, e tocou melodias infinitas na Flauta de Pan.
- Então a ave desejou muito esta alegria, e depondo suas asas, tornou-se um fauno da floresta.
- O harpista também depôs sua flauta de Pan, e com a voz humana cantou suas melodias infinitas.
- Então o fauno encantou-se e foi-lhe atrás muito longe; por fim o harpista calou-se, e o fauno virou Pan no meio da primal floresta da Eternidade.
- Tu näo podes encantar o golfinho com silêncio, Ó meu profeta!
- Entäo o adepto foi arrebatado em dita, e o além da dita, e excedeu o excesso do excesso.
- Também seu corpo tremeu e cambaleou com a carga daquela dita, e daquele excesso, e daquele ultimal inominável.
- Ele gritaram Ele está ébrio ou Ele está louco ou Ele sente dor ou Ele está a ponto de morte; e ele näo os ouviu.
- Ó meu Senhor, meu bem-amado! Como hei de compor cantos, quando até a memória da sombra da tua glória é uma coisa além de toda música da fala ou do silêncio?
- VÊ! eu sou um homem. Mesmo uma criancinha poderia näo Te suportar. E entäo?
- Eu estava só num grande parque, e junto a um certo outeiro estava um anel de relva profunda esmaltada onde uns vestidos de verde, lindissimos, brincavam.
- Em seu brinquedo eu cheguei até mesmo à terra do Sono Encantado.
- A noite inteira eles dançaram e cantaram; mas Tu és a manhä, Ó meu querido, minha serpente que Te enroscas em redor deste coraçäo.
- Eu sou o coraçäo, e Tu a serpente. Aperta mais teus anéis em volta minha, para que nem luz nem dita possam penetrar.
- Arrebata-me em sangue, como uma uva sobre a língua de uma branca jovem Dórica que enlanguece ao luar com seu amante.
- Entäo que o Fim desperta.
Longo tempo tu dormiste, Ó grande Deus Terminus!
Longamente tu esperaste no fim da cidade e das estradas desta.
Acorda Tu! näo esperes mais! - Näo, Senhor! mas eu cheguei a Ti. Sou eu que espero enfim.
- O profeta gritou contra a montanha: vem tu aqui, para que eu possa falar-te!
- A montanha näo se moveu. Portanto foi o profeta até à montanha, e falou-lhe. Mas os pés do profeta ficaram cansados, e a montanha näo lhe ouviu a voz.
- Mas eu clamei alto por Ti, e eu viajei em busca Tua, e de nada me valeu.
- Eu esperei com paciência, e Tu estavas comigo desde o início.
- Isto agora eu sei, Ó meu amado, e nós estamos deitados à vontade entre os vinhais.
- Mas estes teus profetas; eles deves gritar alto e fustigar-se; eles devem cruzar desertos virgens e oceanos insondados; esperar por Ti é o fim, näo o princípio.
- Que escuridäo cubra a escrita! Que o escriba se vá em seus caminhos.
- Mas tu e Eu estamos deitados à vontade entre os vinhais; o que é ele?
- Ó Tu Bem-Amado! näo existe um fim? Näo, mas existe um fim. Acorda! levanta-te! cinge teus membros, Ó tu corredor; leva a Palavra às cidades pujantes, sim, às cidades pujantes.
III
- Em verdade e Amém! Eu passei pelo mar profundo, e pelos rios de água corrente que ali abundam, e eu cheguei à Terra Sem Desejo.
- Onde estava um unicórnio branco com uma coleira de prata, na qual estava gravado o aforisma Linea viridis gyrat universa.
- Entäo a palavra de Adonai veio a mim pela boca do Magister meu, dizendo: Ó coraçäo que estás cingido com os anéis da velha cobra, levanta-te à montanha da iniciaçäo!
- Mas eu lembrei-me. Sim, Than, sim, theli, sim Lilith! estas três me cingiam de há muito. Pois elas säo uma.
- Linda eras tu, Ó Lilith, tu mulher-serpente!
- Eras esguia e teu gosto uma delícia, e teu perfume era de almíscar mistrado de ambergris.
- Tu apertavas o coraçäo com teus anéis, e isso era como a primavera de alegria.
- Mas eu vi em ti uma certa mancha, mesmo naquilo em que me deleitava.
- Eu vi em ti a mancha de teu pai o macaco, do teu avô o Verme Cego do Lodo.
- Eu olhei o Cristal do Futuro, e vi o horror do teu Fim.
- Mais, eu destruí o tempo Passado, e o tempo Vindouro - näo tinha eu o Poder da Ampulheta?
- Mas mesmo na hora eu vi corrupçäo.
- Entäo eu disse: Ó meu amado, Ó Senhor Adonai, eu te rogo que desfaças as roscas da serpente!
- Mas ela estava apertada em volta minha, de modo que minha Força era impedida em seu começo.
- Também eu orei ao Deus Elefante, o Senhor dos Começos, que derruba obstruçäo.
- Estes deuses vieram prontamente em minha ajuda. Eu os vi; eu me uni a eles; eu me perdi em sua vastidäo.
- Entäo eu me percebi cingido pelo Infinito Círculo de Esmeralda que circunda o Universo.
- Ó Serpente de Esmeralda, Tu näo tens tempo Passado, nem tempo Vindouro. Em verdade, Tu näo és.
- Tu és gostosa além do tato e do sabor, Tu näo podes ser vista de glória, Tua voz está além da Fala e do Silêncio e da Fala no Silêncio, e Teu perfume é de puro embergris, que näo é de se pesar contra o mais fino do ouro fino.
- Também Tuas roscas säo de infinito alcance; o Coraçäo que Tu encercas é um Coraçäo Universal.
- Eu, e Mim, e Meu, estavam sentados com alaúdes na praça de mercado da grande cidade, a cidade das violetas e das rosas.
- A noite caiu, e a música dos alaúdes parou.
- A tempestade rugiu, e a música dos alaúdes parou.
- A hora passou, e a música dos alaúdes parou.
- Mas Tu és a Eternidade e o Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negaçäo de tudo isso.
- Pois näo existe Símbolo de Ti.
- Se eu digo Subí sobre as montanhas! as águas celestiais flúem ao meu comando. Mas tu és a Água além das águas.
- O rubro coraçäo triangular foi colocado em Teu templo; pois os sacerdotes desprezaram igualmente o templo e o deus.
- No entanto o tempo todo Tu ali oculto estavas, como o Senhor do Silêncio está oculto nos botöes do lótus.
- Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Assassino no Profundo. Tu és Tifon, a Fúria dos Elementos, Ó Tu que transcendes as Forças em seu Concurso e Coesäo, em sua Morte e Disrupçäo. Tu és Piton, a terrível serpente em volta do fim de todas as coisas!
- Eu me virei três vezes em todas as direçöes; o sempre eu cheguei a Ti por fim.
- Muitas coisas eu vi, mediatas e imediatas; mas näo as vendo mais, eu vi a ti.
- Vem Tu, Ó Bem-Amado! Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vastidäo, Ó Minuscia! Eu sou o Teu amado.
- O dia inteiro eu canto o Teu deleite; a noite inteira eu me deleito em Teu canto.
- Näo existe nenhum outro dia ou noite que este.
- Tu estás além do dia e da noite; eu sou Tu mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu Esposo!
- Eu sou como o cachorrinho vermelho que está sentado nos joelhos do Desconhecido.
- Tu me trouxeste o grande deleite. Tu me deste Tua carne a comer e do Teu sangue como uma oferta de intoxicação.
- Tu ferraste as presas da Eternidade em minha alma, e o Veneno do Infinito me consumiu inteiramente.
- Eu estou tornado como um opulento diabo da Itália; uma mulher loura e forte de face cavada, comida de fome de beijos. Ela bancou a rameira em diversos palácios; ela deu seu corpo às bestas.
- Ela matou seus parentes com forte veneno de sapos; ela foi castigada com muitas varas.
- Ela foi despedaçada sobre a Roda; as mãos do verdugo a amarraram ali.
- As fontes d'água foram abertas sobre ela; ela lutou contra tormento extremo.
- Ela rebentou sob o peso das águas; ela afundou no horrendo mar.
- Assim sou eu. Ó Adonai, meu senhor, e assim são as águas da Tua intolerável Essência.
- Assim sou eu, Ó Adonai, meu amor, e Tu me arrebentaste por completo.
- Eu estou derramado como sangue sobre os picos; os Corvos da Dispersão me levaram por completo.
- Portanto está afrouxado o selo que guardava o Oitavo abismo; portanto é o vasto mar como um véu; portanto há uma dilaceração de todas as coisas.
- Sim, também em verdade Tu és a fresca quieta água da fonte encantada. Eu me banhei em Ti, e me perdi em Tua quietude.
- Aquilo que entrou como um valente menino de lindos membros sai como uma donzela, como uma criancinha em sua perfeição.
- Ó Tu luz e deleite, arrebata-me ao oceano leitoso das estrelas.
- Ó Tu Filho de uma mãe que transcende a luz, abençoado seja Teu nome, e o Nome de Teu Nome, através das idades!
- Vê! eu sou uma borboleta na Fonte de Criação; deixa-me morrer antes da hora, caindo morto em Tua corrente infinita!
- Também a corrente das estrelas flui sempre majestosa à Habitação; carrega-me no Colo de Nuit!
- Este é o mundo das águas de Main; esta é a água amarga que se torna doce. Tu és belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu Abismo de Safira.
- Eu sigo a Ti, e as águas da Morte lutam extênuas contra mim. Eu passo às Águas além da Morte e além da Vida.
- Como responderei ao homem tolo? Por nenhum caminho ele chegará à Tua Identidade!
- Mas eu sou o Tolo que não liga ao Jogo do Mago. A mim a Mulher dos Mistérios instrui em vão; eu quebrei os grilhões do Amor e do Poder e da Adoração.
- Portanto é a Águia unida ao Homem, e a força de infâmia dança com o fruto do justo.
- Eu baixei, Ó meu querido, às águas negras e brilhantes, e Te colhi como uma pérola negra de valor infinito.
- Eu desci, Ó meu Deus, ao abismo do todo, e eu Te encontrei lá no meio sob o disfarce de Nada.
- Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo eu Te revelo à multidão.
- Aqueles que sempre Te desejam Te obterão, mesmo no Fim do seu Desejo.
- Glorioso, glorioso, glorioso Tu és, Ó meu amante super - no Ó Ser do meu ser.
- Pois eu Te achei igualmente no Mim e no Ti; não há diferença, Ó meu belo, Ó meu Desejável! No Um e nos Muitos eu Te encontrei; sim, eu Te encontrei.
IV
- Ó coração de cristal! Eu a Serpente Te abraço; Eu enterro minha cabeça no Teu centro mais íntimo, Ó Deus meu amor.
- Mesmo qual nos ressoantes altos varridos de vento de Mytilene alguma mulher como deusa põe de lado a lira e, seus cabelos flamejando qual auréola, mergulha no coração da criação, assim Eu, Ó Senhor meu Deus!
- Há uma beleza indizível, onde as flores flamejam.
- Ah me! mas a sede de Tua alegria resseca esta garganta, de modo que Eu não posso cantar.
- Eu me farei um botezinho de minha língua, e explorarei os rios desconhecidos. Pode ser o eterno sal vire doçura, e minha vida não seja mais sedenta.
- Ó vós que bebeis da salmoura do vosso desejo, estais perto da loucura! Vossa tortura cresce se bebeis, e continuais bebendo. Subí pelos regatos à água fresca; Eu vos esperarei com os meus beijos.
- Como a pedra-bezoar que é encontrada na barriga da vaca, assim é meu amante entre os amantes.
- Ó menino de mel! Traz-me aqui Teus membros frescos! Sentemo-nos por um pouco na chácara, até o sol descer! Festejemos sobre a relva fresca. Trazei vinho, vós escravos, para que as bochechas do meu menino se enrubesçam.
- No jardim de imortais beijo, Ó tu brilhante, resplandece! Faz de Tua boca uma papoula, que um beijo é a chave do sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.
- Em meu sono Eu contemplei o Universo como um cristal límpido sem mancha.
- Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e tagarelam de seus feitos de bebedores de vinho.
- Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e insultam os hóspedes.
- Os hóspedes brincam sobre sofás de madrepérola no jardim; o barulho dos homens tolos está escondido deles.
- Apenas o taverneiro teme que o favor do rei lhe seja retirado.
- Assim falou o Magister V.V.V.V.V. a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos à luz das estrelas de encontro à profunda poça negra que está no Lugar Santo da Casa Santa sob o Altar do Santíssimo.
- Mas Adonai riu, e brincou mais lânguido.
- Então o escriba tomou nota, e alegrou-se. Mas Adonai não tinha medo do Mago e seu brinquedo.
Pois foi Adonai quem ensinou ao Mago todos os seus truques. - E o Magister entrou no jogo do Mago. Quando o Mago ria, ele ria; tudo como deve um homem fazer.
- E Adonai disse: Tu estás enredado na teia do Mago. Isto Ele disse sutilmente, para prová-lo.
- Mas o Magister deu o sinal do Magistério e riu-Lhe: Ó senhor, Ó bem-amado, relaxaram-se estes dedos nos anéis dos Teus cabelo, ou desviaram-se estes olhos do Teu olho?
- E Adonai deleitou-se extremamente nele.
- Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Bem-Amado; a Ave Bennu não está posta em Philae em vão.
- Eu que fui a sacerdotiza de Ahathoor regozijo-me no vosso amor. Ergue-te, Ó Deus-Nilo, e devora o lugar santo da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por Sebek o habitante do Nilo!
- Levanta-Te, Ó serpente Apep, Tu és Adonai o bem-amado! Tu és meu querido e meu senhor, e Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis a mão dos Deuses!
- Pois Tu és Ele! Sim Tu engulirás Asi e Asar e os filhos de Ptah. Tu vomitarás uma enxurrada de veneno para destruir os trabalhos do Mago. Somente o Destruidor Te devorará; Tu lhe enegrecerás a garganta, onde seu espírito habita. Ah, serpente Apep, mas Eu Te amo!
- Meu Deus! Que Tua presa secreta penetre até o tutano do ossinho secreto que eu guardei para o Dia da Vingança de HoorRa. Que Kheph-Ra zumba com seus élitros! que os chacais de Dia e Noite uivem na imensidão do Tempo! que as Torres do Universo tremam, e os guardiões fujam correndo! Pois meu Senhor revelou-Se como uma serpente pujante, e meu coração é o sangue do Seu corpo.
- Eu sou como uma cortesã de Corinto doente de amor. Eu brinquei com reis e capitães, e fiz deles meus escravos. Hoje eu sou a escrava da viborazinha da morte; e quem desatará nosso amor?
- Cansado, cansado! diz o escriba, quem me levará à visão da Raptura de meu mestre?
- O corpo está cansado e a alma cansadissima, e sono lhes pesa nas pálpedras; no entanto está sempre presente a certeira consciência do êxtase, desconhecido, entretanto conhecido em que sua existência é certa. Ó Senhor, sê minha ajuda, e traze-me à dita do Bem-Amado!
- Eu cheguei à casa do Bem-Amado, e o vinho era como fogo que voa de asas verdes pelo mundo das águas.
- Eu senti os lábios rubros da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs elas me afagaram seu irmãozinho; elas me adornaram como noiva; elas me trouxeram ao Teu quarto de núpcias.
- Elas fugiram à Tua vinda; eu fiquei só perante Ti.
- Eu tremi à Tua vinda, Ó meu Deus, pois Teu mensageiro era mais terrível que a estrela-Morte.
- No umbral quedou a fulminante figura do Mal, o Horror do vazio, com seus olhos fosforescentes como poços venenosos. Ele quedou, e o quarto corrompeu-se; o ar fedia. Ele era um velho peixe enrugado, mais horrendo que os cascões de Abaddon.
- Eles me envolveu com seus tentáculos demoníacos; sim, os oito medos se apossaram de mim.
- Mas eu estava ungido com o mui-doce óleo do Magister; escorreguei no abraço como uma pedra da funda de um menino dos bosques.
- Eu era liso e duro como o marfim; o horror não conseguir apoio. Então, ao ruído do vento da Tua vinda, ele foi dissolvido, e o absimo do grande vazio foi desdobrado diante de mim.
- Através do mar semm ondas da eternidade Tu cavalgaste com Teus capitães e Tuas hostes; com Teus carros e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste pelo azul.
- Antes que eu Te visse, Tu estavas já comigo; eu fui trespassado por Tua maravilhosa lança.
- Eu fui aturdido qual uma ave pelo relâmpago do Trovejador; eu fui varado como o ladrão pelo Senhor do Jardim.
- Ó meu Senhor, naveguemos sobre o mar de sangue!
- Existe uma profunda mancha sob o deleite inefável; é a mancha da geração.
- Sem, se bem que a flor dança brilhante à luz do sol, a raíz se afunda na escuridão da terra.
- Louvor a ti, Ó linda terra escura, tu és a mãe de um milhão de miríadeas de miríadas de flores.
- Também, eu contemplei meu Deus, e Sua face era mil vezes mais brilhante do que o raio. Mas em seu coração eu vi o Lento e Escuro, anciente, o devorador de Seus filhos.
- No píncaro e no abismo, Ó meu lindo, não existe nada, em verdade não existe coisa alguma que não seja completamente e perfeitamente feita para Teu deleite.
- A Luz se agarra à Luz, e a escória à escória; com orgulho uma acusa a outra. Mas não Tu, que és tudo, e além disso; que estás absolvido da Divisão das Sombras.
- Ó dia da Eternidade, que Tua onda se quebre em glória quieta de safira sobre o laborioso coral que fabricamos!
- Nós fizemo-nos um anel de branca areia reluzente, esparzida sabiamente no meio do Oceano Deleitoso.
- Que as palmeiras de brilho floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto, e nos alegraremos.
- Mas para mim a água lustral, a grande ablução, a dissolução da alma naquele ressoante abismo.
- Eu tenho um filhinho como um bode malandro; minha filha é como uma aguiazinha sem plumas; eles conseguirão nadadeiras, para que possam nadar.
- Para que eles possam nadar, Ó meu amado, nadar longe no mrono mel do Teu ser, Ó abençoado, Ó menino de beatitude!
- Este meu coração está cingido com a serpente que deveora seus próprios anéis.
- Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando serão o Universo e seu Senhor completamente engulidos?
- Não! quem devorará o Infinito? quem desfará o Erro do Princípio?
- Tu gritas como um gato branco no telhado do Universo; nenhum existe para Te responder.
- Tu és como um pilar solitário no meio do mar; nenhum existe para Te ver, Ó Tu que vês tudo!
- Tu esmoreces, tu fracassas, tu escriba; gritou a Voz desolada; mas Eu te enchi de um vinho cujo sabor tu não conheces.
- Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinzenta que rola no infinitamente Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sengue de uma linda cortesã trespassada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.
- Também Eu sou a Alma do deserto; tu me buscarás ainda uma vez na solidão de areia.
- À tua mão direita, um grão-senhor, e formoso; à tua mão esquerda uma mulher vestida em gaze e ouro, tendo as estrelas em seu cabelo. Vós viajareis longe numa terra de mal e pestilência; vós acampareis no rio de uma tola cidade esquecida; lá vos encontrareis Comigo.
- Lá Eu farei Minha habitação; como para bodas Eu virei enfeitado e ungido; lá a Consumação será feita.
- Ó meu querido, Eu também espero pelo brilho da hora inefável, quando o universo será como uma cinta para o meio do raio do nosso amor, estendendo-se além do fim permitido do Infindo.
- Então, Ó tu coração, Eu a serpente de devorarei por completo; sim, Eu te devorarei por completo.
V
- Ah! meu Senhor Adonai que brincas com o Magister na Tesouraria de Pérolas, que eu escute o eco de vossos beijos.
- Não é o céu estrelado sacudido como uma folha à trêmula raptura do vosso amor? Não sou eu a esvoaçante fagulha de luz arremessada longe pelo grande vento da vossa perfeição?
- Sim, gritou o Santissimo, e da Tua fagulha Eu o Senhor acenderei uma grande luz; Eu queimarei por completo a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei da sua grande impureza.
- E tu, Ó profeta, verás estas coisas, e tu não ligarás a elas.
- Agora está o Pilar estabelecido no Vazio; agora está Asi satisfeita por Asar; agora é Hoor baixado à Alma Animal das Coisas como uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra.
- Através da meia-noite tu és deixado cair, Ó mina criança, meu conquistador, meu capitão cingido com a espada, Ó Hoor! e eles te acharão como uma nodosa brilhante pedra negra, e eles te adorarão.
- Meu profeta profetizará a teu respeito; em tua volta dançarão as donzelas, e brilhantes bebes lhes nascerão. Tu inspirarás os orgulhosos com infinito orgulho, e os humildes com um êxtase de abjeção; tudo isto transcenderá o Conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome. Pois é como o abismo do Arcano que é aberto no secreto Lugar de Silêncio.
- Tu chegaste aqui, Ó meu profeta, por graves caminhos. Tu comeste do excremento dos Abomináveis; tu te prostraste diante do bode e do Crocodilo; os homens maus fizeram de ti um joguete; tu vagaste como uma maneira pintada, sedutora com doces perfumes e pintura chinesa, pelas ruas; tu escureceste os cantos dos teus olhos com Kohl; tu tingiste teus lábios de vermelho; tu emplastraste tuas bochechas com esmaltes de margim. Tu bancaste a desavergonhada em todo portão e cada beco da grande cidade. Os homens da cidade te seguiram desejosos de te abusar e te bater. Eles mastigaram as douradas lantejoulas de fino pó com as quais tu adornaste os teus cabelos; eles fustigaram tua carne pintada com seus açoites; tu sofreste coisa indizíveis.
- Mas Eu queimei dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia-noite Eu brilhei mais do que a luta; durante o dia Eu excedi completamente o sol; nos atalhos pouco trilhados do teu ser Eu flamejei, e desfiz a ilusão.
- Portanto tu és completamente puro diante de Mim; portanto tu és Minha virgem eternamente.
- Portanto Eu te amo com excedente amor; portanto aqueles que te desprezam te adorarão.
- Tu serás amorável e piedoso para com eles; tu os curarás do mal inominável.
- Eles mudarão ao serem destruídos, mesmo como duas estrelas escuras que se chocam no abismo e esbrazeiam num incêndio infinito.
- Durante tudo isso Adonai trespassou meu ser com sua espada que tem quatro lâminas; a lâmina do raio, a lâmina do Pilone, a lâmina da serpente, a lâmina do Falo.
- Também, ele me ensinou a santa indizível palavra Ararita, de forma que eu derreti o ouro sêxtuplo em um único ponto invisível, do qual nada se pode dizer.
- Pois o Magistério desta Opus é um magistério secreto, e o sinal do mestre nisso é um certo anel de lápis-lazuli com o nome do meu mestre, que sou eu, e o Olho no Meio.
- Também Ele falou e disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o revelarás ao profano, nem ao neófito, nem ao zelador, nem ao prático, nem ao filósofo, nem ao adepto menor, nem ao adepto. maior.
- Mas ao adepto exempto tu te revelarás se tiveres necessidade dele para as operações menores da tua arte.
- Aceita a adoração da gente tola a quem odeias. O Fogo não é conspurcado pelos altares dos Ghebers, nem é a Lua contaminada pelo incenso daqueles que adoram a Rainha da Noite.
- Tu viverás entre o povo como um diamante precioso entre diamantes nublados, e cristais, e pedaços de vidro. Somente o olho do mercador justo te contemplará, e mergulhando sua mão te escolherá e te glorificará diante dos homens.
- Mas tu não ligarás a nada disto. Tu serás sempre o coração, e Eu a serpente Me apertarei em volta tua. Meus anéis nunca se relaxarão através dos aeons. Nem mudança nem sofrimento nem insubstancialidade te terão; pois tu passaste além de todos estes.
- Mesmo como o diamante brilhará rubro para a rosa e verde para a folha da roseira; assim tu permanecerás à parte das Impressões.
- Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Também tu estás além das estabilidades do Ente e da Consciência e da Bemaventurança; pois Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Também tu discursarás sobre estas coisas ao homem que as escreve, e ele partilhará delas como um sacramento; pois Eu que sou tu sou dele, e o Pilar está estabelecido no vazio.
- Da Coroa ao Abismo, assim vai ele único e ereto. Também a esfera ilimitada a resplandecerá com o seu brilho.
- Tu te regozijarás nas poças de água adorável; tu enfeitarás tuas donzelas com pérolas de fecundidade; tu acenderás flama como línguas lambentes de licor dos Deuses entre as poças.
- Também, tu converterás o compassante ar nos ventos de água pálida, tu transmutarás a terra em um abismo azul de vinho.
- Rútilos são os coriscos de rubi e ouro que ali chispam; uma gota intoxicará o Senhor dos Deuses meu servo.
- Também, Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Ó meu pequenino amoroso, minha gazela, meu lindo, meu menino, enchamos o pilar do Infinito com um infinito beijo!
- De modo que o estável foi sacudido e o instável se aquietou.
- Aqueles que viram isto gritaram como um formidável medo: O fim das coisas chegou.
- E assim foi.
- Também, eu estive na visão espiritual e contemplei uma pompa parricida de ateístas conjugados de dois em dois no êxtase superno das estrelas. Eles riam e se regozijavam extremamente, estando vestidos em robes de púrpura, e sua alma inteira era uma só purpúrea flama-flor de santidade.
- Eles não viam Deus; eles não viam a Imagem de Deus; portanto eles estavam erguidos ao Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeava diante deles, e o verme Esperança retorceu-se nas vascas da morte sob os seus pés.
- Mesmo quando a raptura deles despedaçou a Esperança visível, assim também o Medo Invisível fugiu correndo e não mais foi.
- Ó vós que estais além de Aormuzdi e Ahrimanes! abençoados sois através das idades.
- Eles fizeram uma foice da Dúvida, e colheram as flores da Fé para suas grinaldas.
- Eles fizeram uma lança do Êxtase, e atravessaram o velho dragão que estava sentado sobre a água estagnada.
- Então as fontes frescas foram libertadas, para que a gente sedenta pudesse estar à vontade.
- E de novo eu fui arrebatado à presença de meu Senhor Adonai, e o conhecimento e Conversação do Santo, o Anjo que me guarda.
- Ó Santo Exaltado, Ó Ser além do ser, Ó Imagem Auto-Luminosa do Nada Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, vem Tu e segue-me.
- Adonai, divino Adonai, lá Adonai inicia refulgente deleite! Assim eu escondi o nome do nome d'Ela que inspira minha raptura, o odor de cujo corpo confunde a alma, a luz de cuja alva rebaixa este corpo às bestas.
- Eu suguei o sangue com meus lábios; eu sequei Sua beleza de sustento; eu A rebaixei diante de mim, eu A amestrei, eu A possui, e a vida d'Ela está em mim. No sangue d'Ela eu inscrevo os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que nenhum compreenderá -- salvo apenas os puros e voluptuosos, os castos e obscenos, os andrógenos e a s ginandras que passaram além das barras da prisão que o velho Lodo de Khem estabeleceu nos Portões de Amennti.
- Ó minha adorável, minha deliciosa, a noite inteira eu verterei a libação nos Teus altares; a noite inteira eu queimarei o sacrifício de sangue; a noite inteira eu balançarei o turíbulo do meu deleite diante de Ti, e o fervor das orações intoxicará Tua narinas.
- Ó Tu que vieste da terra do Elefante, cingido com a pele do tigre, e engrinaldado com o lotus do espírito, inebria Tu a minha vida com Tua loucura, para que Ela pule quando eu passe.
- Comanda Tua moças que Te seguem a que nos façam uma cama de flores imortais, para que ali a tomemos nosso prazer. Comanda Teus sátiros a que amontoem espinhos entre as flores, para que ali tomemos nossa dor. Que o prazer e a dor sejam misturado em uma suprema oferta ao Senhor Adonai!
- Também, eu ouvi a voz de Adonai o Senhor o desejável sobre aquilo que está além.
- Que os habitantes do Tebas e seus templos não boquejem sempre dos Pilares de Hércules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma água bela?
- Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois todo passo é uma morte e um nascimento. O sacerdote de Isis levantou o véu de Isis, e foi morto pelos beijos da sua boca. Então foi ele o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.
- Que o fracasso e a dor não desanimem os adorantes. As fundações da pirâmide foram talhadas da rocha viva antes do por-do-sol; chorou o rei na madrugada porque a coroa da pirâmide ainda não havia sido cortada da pedreira na terra distante?
- Houve também um beija-flor que falou ao cerastes de chifres, e rogou-lhe por veneno. E a grande cobra de Khem o Santo, a real serpente Ureus, respondeu-lhe e disse:
- Eu naveguei sobre o céu de Nu no carro chamado Milhões-de-Anos, e não vi nenhuma criatura sobre Seb que fosse minha igual. O veneno da minha presa é a herança de meu pai e do pai de meu pai; e como o darei a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais temos vivido, mesmo durante cem milhões de gerações, e pode ser que a misericórdia dos Poderosos confira sobre teus filhos uma gota do veneno antigo.
- Então o beija-flor afligiu-se em seu espírito, e voou por entre as flores, e foi como se nada tivesse sido dito entre eles. No entanto daí a pouco uma serpente o golpeou e ele morreu.
- Mas um Ibis que meditava sobre a margem de Nilo o lindo deus ouviu e escutou. E ele abandonou seus hábitos de Ibis e tornou-se como uma serpente, dizendo Talvez em cem milhões de milhões de gerações dos meus filhos eles conseguirão uma gota do veneno da presa do Exaltado.
- E vede! antes que a luta enchesse três vezes ele virou uma serpente Ureus, e o veneno da presa foi estabelecido nele e sua semente mesmo para sempre e para sempre.
- Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, é um grão do tempo mais mínimo, esta viagem pela eternidade, e à Tua vista as marcas são de lindo mármore branco intocado pela ferramenta do gravador. Portanto Tu és meu, mesmo agora e para sempre e para sempre mais. Amém.
- Além disto, eu ouvi a voz de Adonai: Sela o livro do Coração e da Serpente; no número cinco e sessenta sela tu o santo livro. Como ouro fino que é batido em um diadema para a linda rainha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, assim liga tu as palavras e os atos, de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite.
- E eu respondi e disse: Está feito mesmo de acordo com a Tua palavra. E foi feito. E aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram à terra desolada das Palavras Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue foram os escolhidos de Adonai, e o Pensamento de Adonai era uma Palavra e um Ato; e eles habitaram na Terra que os viajantes longínquos chamam Nada.
- Ó terra além do mel e das espécies e toda perfeição! Eu viverei ali com meu Senhor para sempre.
- E o Senhor Adonai deleita-Se em mim, e eu porto a Taça da Sua alegria aos homens enfastiados da velha terra cinzenta.
- Os que bebem dela caem enfermos; a abominação os têm possuído, e seu tormento é como o humo negro e espesso da morada do mal.
- Porém os eleitos beberão dela, e se fizeram como meu Senhor, minha formosura, meu desejo. Não há vinho ocmo este vinho.
- Eles se congregam em um coração ardente, como Ra congrega suas núvens ao Seu redor ao entardecer rem um mar revolto de alegria; e a serpente, que é a corôa de Ra, os envolvia com o abraço dourado dos beijos da morte.
- Assim também é o fim do livro, e o Senhor Adonai o envolve por todos os lados como um Raio, e um Bebedouro, e uma Serpente, e um Falo, e em meio disto Ele é como uma Mulher que segrega de seus peitos o leite das estrelas; sim o leite das estrelas de seus peitos.
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