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Uma Introdução às Obras de Kenneth Grant

QUEM FEZ ISSO?

“A palavra de Pecado é Restrição.” — AL I:41

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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Liber ThIShARB

000. Possa ser. (00. Não foi possível construir esse livro numa base de Ceticismo puro. Isso pouco interessa, a prática leva ao ceticismo, e ele pode estar em meio a ela.)
0. Este livro não pretende guiar ao feito supremo. Pelo contrário, seus resultados distinguem o ser separado do Adepto Isento do resto do Universo, e descobrem as relações do Adepto com ele1.
1. Ele é de tal importância para o Adepto Isento que não podemos supervalorizá-lo. Que ele de forma alguma aventure a mergulhar no Abismo antes que tenha realizado isso à satisfação mais perfeita2.
2. Pois no Abismo qualquer esforço de qualquer forma não é possível. Passa-se pelo Abismo pela massa do Adepto e de seu Karma. Duas forças o impelem: (1) a atração de Binah, (2) o impulso de seu Karma; e a facilidade e mesmo a segurança de sua passagem dependem da força e direção do último3.
3. Se alguém rudemente ousar a passagem, e tomar o irrevogável Voto do Abismo, ele poderá se perder ali durante Éons de agonia incalculável; ele pode mesmo ser atirado de volta sobre Chesed, com o terrível Karma da falha adicionado a sua imperfeição.
4. É mesmo dito que em certas circunstâncias é possível cair totalmente da Árvore da Vida e alcançar as Torres dos Irmãos Negros. Mas asseguramos que isso é impossível para qualquer Adepto que tenha verdadeiramente obtido seu grau, ou mesmo por qualquer homem que tenha buscado ajudar a humanidade por um só segundo4e que mesmo que sua aspiração tenha sido maculada através de vaidade ou imperfeições similares.
5. Que então o Adepto que ache o resultado dessas meditações insatisfatório recuse o Voto do Abismo, e viva de maneira que seu Karma ganhe força e direção apropriada para a tarefa em algum ponto no futuro5.
6. Memória é essencial para a consciência individual; de outra forma a mente seria apenas um lençol branco no qual sombras são lançadas. Mas notamos que a mente não somente retém impressões, mas é constituída de forma que sua tendência é reter umas mais perfeitamente do que outras. Assim, o grande erudito clássico, Sir Richard Jebb, era incapaz de aprender mesmo a matemática básica necessária para o exame preliminar na Universidade de Cambridge, e uma autorização especial foi requerida de forma a admiti-lo.
7. O primeiro método a ser descrito foi descrito em detalhes em "Treinamento da Mente"6 Bhikkhu Ananda Metteya. Temos pouco a adicionar ou alterar. Seu mais importante resultado com relação ao Voto do Abismo, é a libertação de qualquer desejo ou apego a qualquer coisa que ele permite. Seu segundo resultado é ajudar o adepto no segundo método, fornecendo a ele com maiores dados para sua investigação7.
8. A estimulação da memória útil em ambas as práticas é também alcançada pela simples meditação (Liber E), em um certo estágio no qual velhas memória aparecem espontaneamente. O Adepto deve então praticar isto, parando nesse estágio, e encorajando, ao invés de suprimir, os clarões de memória.
9. Zoroastro disse "Explore o Rio da Alma, donde ou em de que ordem tens chegado; assim mesmo que tenhas virado um servo do corpo, poderás novamente alçar àquela Ordem (a A.·.A.·.) da qual tu vens, reunindo Obras (Kamma) à Razão Secreta (o Tao)".
10. O resultado do segundo método é demostrar ao Adepto a que fim seus poderes são destinados. Quando tiver passado o abismo e se tornado Nemo, o retorno ao presente o faz "aparecer no Céu de Júpiter como uma estrela matutina ou uma estrela noturna".8 Em outras palavras deve ele descobrir qual pode ser a natureza de sua obra. Assim Mohammed era um Irmão refletido em Netzach, Buddha um Irmão refletido em Hod, ou, como alguns dizem, Daath. A manifestação presente de Frater P. para o externo é em Tiphereth, para o interno no caminho de Leão.
11. "Primeiro Método." Que o Adepto Isento treine primordialmente a pensar de trás para frente por meios externos, como aqui enunciados. -
(a) Que aprenda a escrever de trás para frente, com ambas as mãos. (b) Que aprenda a caminha de trás para frente. (c) Que constantemente assista, se conveniente, filmes (d) cinematográficos, e ouça a discos fonográficos, de trás para frente, e que acostume-se a isso de tal forma que lhe pareça natural e apreciáveis como um todo. (e) Que pratique falar de trás para frente: assim para "Eu sou Ele" que ele diga "Ele uos Ue". (f) Que aprenda a ler de trás para frente. Nisso é difícil enganar-se a si mesmo, já que um bom leitor lê uma sentença a primeira vista. Que seu discípulo leia de trás para frente em voz alta para ele, vagarosamente a princípio, depois mais rápido.
De sua própria imaginação, que ele invente outros métodos.
12. Nisso seu cérebro a princípio será sobrecarregado por um sentido de profunda confusão; depois, será levado a evadir da dificuldade por uma trapaça. O cérebro fingirá estar trabalhando de trás para frente quando está normal. É difícil descrever a natureza da trapaça, mas ela será bem óbvia para qualquer um que praticar (a) e (b) por um dia ou dois. Elas se tornam bem fáceis, e ele pensará que está fazendo progresso, uma ilusão que a análise profunda irá dispersar.
13. Tendo começado a treinar seu cérebro nesse assunto e obtido algum pequeno sucesso, que o Adepto Isento, acomodado em sua Asana, pense primeiro em sua atitude presente, depois no ato de estar acomodado, depois em sua entrada na sala, depois no ato de vestir o robe, etc. exatamente como aconteceu. E que ele exaustivamente tente pensar cada ato como ocorrendo de trás para frente. Não é suficiente pensar, "Estou sentado aqui, e antes estava de pé, e antes entrei na sala", etc. Essa série é a trapaça detectada nos exercícios preliminares. As seqüências não devem seguir "ghi-def-abc" mas "ihgfedcba": "cavalo um é isso" mas "olavac mu é ossi". Para alcançar isso perfeitamente a prática (c) é muito útil. Muitas vezes o cérebro será encontrado lutando para se corrigir, logo se acostumando a entender "olavac" como apenas outra grafia de "cavalo". Essa tendência deve ser combatida constantemente.
14. Nos primeiros estágios dessas práticas, a preocupação deve ser lembrar meticulosamente, nos mínimos detalhes, as ações; pois o hábito do cérebro de pensar para frente será insuperável a princípio. Pensando em grandes e complexas ações, então, dará numa seqüência que podemos simbolicamente representar como "opqrstu-hijklmn-abcdefg". Se isso for dividido em detalhes, devemos ter "stu-pqr-o-mn-kl-hij-fg-cde-ab" que é muito mais próximo do ideal "utsrqponmlkjihgfedcba".
15. As capacidades diferem grandemente, mas o Adepto Isento não deve ter razões para ficar desencorajado se depois de um mês de trabalho contínuo ele achar que de vez em quando seu cérebro realmente funciona de trás para frente por alguns poucos segundos.
16. O Adepto Isento deve concentrar seus esforços na obtenção de uma linha perfeita de cinco minutos ao invés de tentar estender o tempo coberto por sua meditação. Pois esse treinamento preliminar do cérebro é o Pons Asinorum do processo como um todo.
17. Sendo esses cinco minutos de exercício satisfatórios, o Adepto Isento deve estende-los, a seu arbítrio, em uma hora, um dia, uma semana, e assim por diante. As dificuldades desvanecem-se ante ele enquanto avança; a diferença de um dia para o curso de sua vida inteira não se provará mais difícil do que o aperfeiçoamento aos cinco minutos.
18. Esta prática deve ser repetida no mínimo quatro vezes ao dia, e o progresso é primeiramente visto pela crescente facilidade no funcionamento do cérebro, em segundo lugar pelas memórias adicionais que aparecem.
19. É útil refletir durante esta prática, que uma hora se torna quase mecânica, sobre a maneira pela qual os efeitos emanam das causas. Isso auxilia a mente a ligar suas memórias, e prepara o adepto para a prática preliminar da segunda prática.
20. Tendo permitido à mente retornar umas cem vezes ao momento do nascimento, deve ser encorajado aventurar-se a penetrar além desse momento9. Se estiver genuinamente treinado a pensar de trás para frente, haverá pouca dificuldade de fazer isto, apesar de ser um dos passos distintos na prática.
21. Pode ser então que a memória leve-o a alguma existência prévia. Onde for possível, que seja examinado por apelo aos fatos, como segue: -
22. Acontece comumente aos homens que, em visitando algum lugar em que nunca estiveram, ele lhes parece familiar. Isso pode vir de uma confusão de pensamentos ou de um cochilo da memória, mas é um fato concebível.
Se, então, o adepto "lembrar" que numa vida anterior estava em alguma cidade, digamos Cracow, a qual ele em sua vida nunca visitou, que ele então descreva de memória a aparência de Cracow, e a de seus habitantes, pondo nomes neles. Que adiante entre em detalhes da cidade e seus costumes. E tendo feito isso com minuciosidade, que confirme os dados em consulta a historiadores e geógrafos, ou por uma visita em pessoa, lembrando-se (tanto para o crédito quanto para o descrédito de sua memória) que historiadores e geógrafos são tão falíveis quanto ele mesmo. Mas que de forma alguma confie em sua memória, assumindo suas conclusões como fatos, e agindo a partir deles, sem uma confirmação mais adequada.
23. Esse processo de confirmar a memória deve ser praticado com as memórias mais tenras da infância e juventude com referência às memórias e registros de outros, sempre refletindo sobre a falibilidade de tais resguardos.
24. Tudo isso estando perfeito, de forma que a memória alcance éons incalculavelmente distantes, que o Adepto Isento então medite sobre a infrutuosidade de todos esses anos, e sobre o fruto em si, separando o que é transitório e vão do que é perene. E, sendo ele apenas um Adepto Isento, pode acabar entendendo tudo como insosso e cheio de dor.
25. Sendo assim, sem relutância ele fará o Voto do Abismo.
26. "Segundo Método" - Que o Adepto Isento, fortificado pela prática do primeiro método, comece o exercício preliminar do segundo método.
27. "Segundo Método" - Práticas preliminares. Que ele, acomodado em sua Asana, considere um evento qualquer, e trace suas causas imediatas. E que isso seja feito completa e detalhada. Aqui, por exemplo, está um corpo parado e ereto. Que o adepto considere as muitas forças que o mantém; em primeiro lugar, a atração da terra, do sol, dos planetas, das estrelas distantes, cada uma das partículas de pó no quarto, uma das quais (que seja aniquilada) poderia causar movimento no corpo, mesmo que imperceptivelmente. Também a resistência do chão, a pressão do ar, e todas as outras condições externas. Em segundo lugar, as forças internas que o sustém, a maquinaria complexa e vasta do esqueleto, dos músculos, do sangue, da linfa, da medula, enfim, tudo o que faz um homem. Em terceiro lugar as forças morais e intelectuais envolvidas, a mente, a vontade, a consciência. Que ele continue nisso com incansável ardor, buscando a natureza, não deixando nada de fora.
28. Em seguida, que ele tome uma das causas imediatas de sua posição, e siga a pista de seu equilíbrio. Por exemplo, a vontade. O que faz sua vontade ajudar a manter o corpo ereto e imóvel?
29. Isso sendo descoberto, que ele escolha uma das forças as quais determinam sua vontade, e siga dali de forma semelhante; e que esse processo seja mantido por muitos dias até que a interdependência de todas as coisas seja uma verdade incrustada em seu ser mais profundo.
30. Isso sendo alcançado, que ele siga sua própria história com relevância especial as causas de cada evento . E nessa prática ele pode negligenciar até certo ponto as forças universais que a todo momento agem em todos, como por exemplo, a atração das massas, e que ele concentre sua atenção sobre as causas determinantes, principais ou efetivas.
Por exemplo, ele está sentado, talvez, num campo da Espanha. Por que? Porque a Espanha é amena e aprazível para meditação, e porque suas cidades são barulhentas e cheias de gente. Por que a Espanha é amena? E por que ele deseja meditar? Por que escolheu a amena Espanha e não a amena Índia? À última questão: porque a Espanha é mais próxima de sua casa. Então por que sua casa é próxima a Espanha? Porque seus pais eram alemães. E por que saíram da Alemanha? E assim por diante durante toda a meditação.
31. Em outro dia, que ele comece com uma questão de outro tipo, e cada dia invente novas questões. Assim que ele ligue a predominância da água sobre a superfície da terra com as necessidades da vida tal como a conhecemos, com a gravidade específica e outras propriedades físicas da água, que dessa maneira perceba enfim através de tudo isso a necessidade e harmonia das coisas, não harmonia como os sábios da antigüidade pensavam, tomando todas as coisas para a conveniência e benefício do homem, mas a harmonia mecânica essencial cuja lei final é "inércia." E que nessas meditações que ele evite como se fosse uma praga qualquer especulação fantástica ou sentimental.
32. "Segundo Método." A Prática em si. - Tendo então aperfeiçoado em sua mente esses conceitos, que ele os aplique em sua própria carreira, forjando as ligações da memória nas correntes da necessidade. E que esta seja sua questão final: A que finalidade sou adequado? De que serventia pode meu ser se provar aos Irmãos da A.·.A.·. se eu cruzar o Abismo, e for admitido à Cidade das Pirâmides?
33. Para que ele possa entender claramente a natureza dessa questão, e o método de solução, que ele estude o mecanismo do anatomista que reconstrui um animal de um único osso. Para dar um exemplo simples. -
34. Suponha, tendo vivido toda minha vida entre selvagens, um navio é arremessado contra os rochedos e encalha. Intacta na carga está uma "Victoria"10. Qual é seu uso? As rodas falam de estradas, sua estreiteza de estradas planas, o freio de ladeiras. Os arreios mostram que ela era para ser puxada por um animal, seus comprimento e altura sugerem um animal do tamanho de um cavalo. O fato da carruagem ser aberta sugere um clima tolerável em qualquer parte do ano. A altura do camarote sugere ruas lotadas, ou a personalidade imprevisível do animal empregado para puxá-la. O forro sugere seu uso sendo no transporte de homens mais do que de mercadorias; sua capota que as vezes chove, ou que em alguns momentos o sol é forte. As molas implicariam uma capacidade considerável em metalurgia; o verniz muito esmero nessa arte.
35. Similarmente, que o adepto considere seu próprio caso. Agora que ele está a ponto de saltar no Abismo um gigante "Por que?" confronta-o com o elevado dever comum.
36. Não há átomo diminuto de sua composição que possa ser esquecido sem torná-lo outro que não ele mesmo; nenhum momento inútil em seu passado. Então o que é seu futuro? A "Victoria" não é um vagão; não foi destinada a levar feno. Não é uma charrete; é inútil em corridas.
37. Assim o adepto tem gênio militar, ou muitos conhecimentos de Grego; como essas características ajudam sua finalidade, ou a finalidade da Irmandade? Ele foi morto por Calvino ou apedrejado por Hezekiah; ou como uma cobra foi morto por um camponês, ou morreu em batalha como um elefante trazendo Hamilcar. Como tais memórias o ajudam? Até que ele tenha entendido completamente as razões para cada incidente em seu passado, e achado uma finalidade para cada item de seu presente aparato11, ele não pode responder verdadeiramente nem mesmo aquelas Três Questões que foram colocadas a princípio, nem as Três Questões do Ritual da Pirâmide; e ele não está pronto para fazer o Voto do Abismo.
38. Mas sendo dessa forma iluminado, que ele faça o Voto do Abismo; sim, que ele faça o Voto do Abismo.

Notas:

1. Esse livro mostra como indagar "Quem sou eu?", "Qual minha relação com a natureza?"
2. É necessário destruirmos nossas noções falsas sobre o quem e o que somos antes que se possa achar a verdade final. Precisamos portanto entender aquelas noçães falsas antes de desistir delas. A não ser que isso seja feito perfeitamente, iremos ter a Verdade misturada com as sobras da Falsidade.
3. Nossa vida tem sido portanto guiada por noções falsas. Daí desistindo delas, não temos mais nenhum padrão de controle ou pensamento ou ação; e, até a verdade nascer, podemos somente mover-nos em virtude de nosso momentum. Isto é, saltando.
4. Aqueles em possessão de Liber CLXXXV (Liber Collegii Sancti) perceberão que em todos os graus exceto um o aspirante é empenhado a ajudar seus inferiores na Ordem.
5. Faça o Adepto Isento perfeito como tal antes de proceder.
6. "Training of the Mind" (Equinox I, 5, págs. 28-59, e especialmente págs. 48-57).
7. A Memória Mágica (i.e. de encarnações anteriores) liberta-nos dos desejos nos mostrando o quão fúteis e criadores de dor são todos feitos terrestres e mesmo pseudo-mágicos.
8. A fórmula da Grande Obra "Solve et Coagula" pode ser assim interpretada. "Solve," a dissolução do si-mesmo no infinito; "Coagula," a apresentação do Infinito, numa forma concreta, para o externo. Ambas são necessárias à Tarefa de um Mestre do Templo. Ele pode aparecer em qualquer outro Céu, de acordo com sua natureza em geral, e sua máscara mágica de iniciação.
9. A distração freudiana tenta resguardar-nos do choque da morte. Devemos nos preparar para encará-la de outra maneira, arriscando a vida habitualmente.
10. Uma carruagem de quatro rodas, com capota removível, assento para dois passageiros e um poleiro para o condutor na frente. (N. do T.)
11. Um irmão conhecido meu ficou repetidas vezes perplexo nessa meditação. Mas um dia caindo de seu cavalo sobre um penhasco íngreme de quarenta pés (aproximadamente 12m - N. do T.) e escapando sem um arranhão ou contusão, ele lembrou-se das suas muitas escapadas por um triz da morte. Estas se provaram ser os fatores primordiais de seu problema, o qual, assim entendido, dissolveu-se em um momento. O. M. (Aqui Crowley fala de si mesmo, o evento foi registrado em sua viagem à China. - Bill Heidrick T.G. da O.T.O.)

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